Porque sonhamos
Talvez você ainda não tivesse
certeza, mas só de lembrar de alguns sonhos bem ricos em cores, detalhes e
emoções, já devia suspeitar que o cérebro não pára de funcionar enquanto
dormimos. Por mais que a gente sinta que o corpo e a mente precisam do repouso
de todas as noites, o cérebro, na verdade, continua funcionando. Mas de uma
maneira diferente, é claro.
Passeando pela cidade, você já
deve ter notado algumas lojas com placas penduradas com a seguinte frase:
"Fechado para balanço". Quer dizer que a loja está avaliando as
atividades realizadas e fazendo um levantamento de tudo o que é necessário para
continuar funcionando. Para que as vendas não atrapalhem o balanço, a loja
precisa fechar suas portas por um dia. Do mesmo modo, quando você dorme, seu
cérebro "fecha para balanço" e ignora tudo o que se passa do lado de
fora, permitindo que você caia no sono mesmo com a televisão ligada, por
exemplo. A cada noventa minutos, seu cérebro entra num período de intensa
atividade interna, "ligando", em pleno sono, suas zonas responsáveis
por sensações, memórias e emoções: é o sonho que começa.
Mas por que o cérebro continua
trabalhando enquanto o resto do corpo descansa? Segundo pesquisas feitas nos
últimos anos, a função do sonho parece ser a de oferecer ao cérebro uma
oportunidade de rever os acontecimentos importantes dos últimos dias. Boa parte
dos estudos é feita em ratos de laboratório com alguns eletrodos implantados,
que detectam a atividade dentro do cérebro. Por exemplo, enquanto os ratinhos
exploram um labirinto novo, uma região do cérebro deles cria um
"mapa" dos lugares por onde passam. Quando eles adormecem e começam a
sonhar (é, ratinhos também sonham!), o mapa recém-criado é "ligado"
de novo -- o que indica que os bichos estavam sonhando com o labirinto.
Funciona tão bem que dá até para dizer, pelo ponto do mapa que está ativado,
com que parte do labirinto o rato está sonhando...
Ter um mecanismo para reprisar os
acontecimentos importantes já é bacana, mas talvez o mais importante do sonho
aconteça em seguida, quando o cérebro parece decidir, na paz do sono, quais
acontecimentos merecem ser registrados definitivamente, ou seja, quais ficarão
na memória. Parte desse registro noturno provavelmente acontece durante a outra
parte do sono, sem sonhos. Mas nem aí o cérebro fica de bobeira, descansando: é
nessa fase que produz novas substâncias que vão ajudar a construir mais
ligações entre as células do cérebro para guardar tudo na memória.
Por isso, hoje acredita-se que o
sono, com sonhos e tudo, é essencial para fixar na memória o que se aprende
durante o dia. Ou seja, é preciso dormir -- e sonhar -- para realmente
aprender. E você que pensava que a aula acaba quando toca o sinal da saída...
Pois até sonhando o cérebro trabalha no dever de casa!
Ciência Hoje das Crianças 125, junho 2002
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